Na contramão da crise econômica, o setor de reparação automotiva viveu um ótimo ano em 2016 e segue em alta neste ano. Sem renda para investir em veículos zero-quilômetro, os clientes têm optado pelo conserto dos automóveis usados, aquecendo o segmento das oficinas mecânicas. Com essa mudança no mercado, o Sebrae-SP adicionou à Feira do Empreendedor de 2017 uma oficina-modelo, espaço voltado exclusivamente para o setor.
Presente pela primeira vez na história do evento, que acontece entre os dias 18 e 21 de fevereiro, no Pavilhão do Anhembi, em São Paulo, a oficina-modelo contará com 150 m² de área, arquibancada, quatro consultores especialistas e capacidade para atender até 50 pessoas por hora. Segundo José Paulo Albanez, coordenador estadual dos projetos de reparação automotiva, a inclusão da novidade é uma resposta não somente ao crescimento do setor, mas também às solicitações feitas por empresários parceiros, que não encontraram alternativas sobre a temática na edição de 2016.
“Esse espaço é uma grande conquista para os empresários de reparação automotiva que trabalham com o Sebrae-SP. A adesão mostra a força que o setor vem ganhando dentro do mercado brasileiro. Em 2014, eram somente cem empresários parceiros em São Paulo. Hoje, já somam mais de mil”, afirma o consultor. Segundo dados do Sindirepa (Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios), existem 16 mil oficinas mecânicas no estado.
Pensando em como esses empresários podem aproveitar o crescimento da busca por reparos em veículos e nos visitantes interessados em abrir um negócio na área, Albanez separou uma lista com os principais desafios e oportunidades do setor.
DESAFIOS
1. Controle financeiro
Segundo Albanez, muitas das oficinas do Brasil são geridas por familiares. O controle financeiro profissional ainda é pouco adotado. “O mecânico gosta da parte técnica”, diz o consultor. Para a empresa crescer, é importante que as finanças sejam organizadas. O dono da oficina precisa ter em mãos, para início de controle, o orçamento anual, o fluxo de caixa trimestral e o demonstrativo financeiro mensal do negócio. “Com esses três relatórios, o planejamento começa a ganhar eficiência”, diz Albanez. A partir daí, o empresário pode definir, por exemplo, quais são os períodos em que a empresa mais fatura e alinhar o planejamento da equipe. “Os melhores funcionários não devem sair de férias na época em que o negócio está vendendo mais serviços.”
2. Contratação e retenção de funcionários
Uma das maiores dificuldades dos donos de oficinas é a insegurança que eles têm em relação aos seus empregados. Muitas vezes, eles não investem na capacitação da equipe por medo de perder empregados para concorrentes ou até mesmo de que abram a sua própria oficina. Isso, na visão do consultor do Sebrae-SP, é um erro. Quanto melhor o seu funcionário, mais produtiva será a sua oficina. “Além disso, o negócio deixa de ser dependente da sua expertise. O empresário deve oferecer treinamento sem receio do que pode acontecer”, afirma. Segundo Albanez, se o negócio oferece boas condições de trabalho, é muito provável que o funcionário continue na empresa.
3. Acompanhamento das tecnologias
De acordo com Albanez, o dono de oficina mecânica precisa saber que não há mais como diagnosticar o problema de um carro pelo ruído. “Isso não existe mais. Não basta o ‘chutômetro’”, afirma o consultor, que destaca a importância de se atualizar com as novas tecnologias. Da mesma forma, o especialista também aponta a importância de saber que dificilmente uma oficina terá sucesso se depender do faturamento sobre as peças. O mercado mudou e agora conta com novos players, que oferecem produtos mais baratos. “É preciso entender que os ganhos devem ser em cima dos serviços.” Outra forma de manter um bom faturamento é evitando desperdícios, algo comum em oficinas mecânicas. “A desorganização gera perda de tempo, que resulta em perda de dinheiro.”
4. Atendimento e fidelização
Nas oficinas mecânicas, o mau atendimento é um dos responsáveis por afastar clientes. “Hoje a comunicação ainda é falha e inadequada”, diz Albanez. Muitas vezes, os donos dos carros saem com a impressão de que não receberam a devida atenção porque o mecânico estava muito ocupado. Outro fator que precisa ser compreendido pelo empresário do setor é que o público feminino está cada vez mais presente e merece o mesmo respeito e atenção que qualquer outro público. Também é importante que o mecânico seja claro e objetivo, relatando com honestidade quais são os problemas do veículo e o que ele pode fazer para mudar a situação. “O mecânico ainda é muito passivo e falho na fidelização. Ele aguarda a chegada do problema, não corre atrás do clientes.” Por isso, recomenda-se que a empresa colete dados e registre os reparos feitos nos veículos. Quando estiver na hora de fazer uma revisão, ele deve procurar o cliente, alertando sobre os riscos de não ir à oficina, por exemplo.
5. O cliente busca solução
Voltando à questão da honestidade, é importante saber: o cliente não está preocupado em buscar o menor preço, mas sim em resolver o seu problema. Por isso, é importante ser claro em relação ao que precisa ser feito, alertando os riscos de adiar aquele conserto, sem medo de perder o cliente por conta do valor total do trabalho. “Solucionar problemas deve ser a principal motivação de uma oficina mecânica”, afirma Albanez.
OPORTUNIDADES
1. Mercado em expansão
Este ano deve ser importante para as oficinas mecânicas. Como a economia ainda não demonstrou força para sair da crise, os condutores continuarão sem dinheiro para comprar um zero-quilômetro. Cabe às empresas de reparação automotiva atrair os donos de carros mais antigos. “Se uma pastilha de freio deixa de funcionar, o dono do veículo precisa arrumar. É uma questão de segurança”, afirma Albanez. Quem está pensando em empreender precisa ficar atento a esse setor.
2. Proximidade com o cliente
É comum, quando uma pessoa deixa o carro para arrumar em uma oficina, que ela precise de transporte público para ir ao trabalho. Por isso, a dica é instalar a empresa em um local de fácil acesso a pontos de ônibus e metrô. “Fica mais fácil deixar o carro, trabalhar e depois pegar o veículo já arrumado no fim da noite”, afirma Albanez. Também é importante tornar a empresa conhecida nas redondezas. Usar as redes sociais e até mesmo o boca a boca no bairro pode fazer toda a diferença para ganhar espaço no mercado.
3. Conscientização como valor
Como são muito reativas, as oficinas mecânicas perdem clientes. Uma forma de evitar isso é trabalhar a manutenção preventiva e conscientizar os consumidores em relação ao cuidado que precisam ter com seus veículos. A orientação de um bom mecânico, mostrando o risco que um carro com peças antigas pode trazer para a família do cliente, torna a venda responsável e valorosa. “Ele precisa avisar o cliente, e não deixá-lo descobrir o problema sozinho”, afirma o consultor.
4. Especializações e parcerias
A oferta de serviços especializados vem dando certo no mercado de reparação automotiva. Algumas empresas já se destacam no mercado por lidarem com problemas de ar-condicionado e airbags, por exemplo. “É a especialização das especializações”, diz Albanez. Aliar isso ao atendimento que você oferece pode ser uma boa saída para a oficina. Se notar que a procura por um serviço específico está crescendo, talvez seja interessante investir no treinamento de um funcionário para cumprir tal função.
5. Busca por novos clientes
Proatividade. Essa é uma palavra que pode fazer toda a diferença para um dono de oficina mecânica. Para o consultor do Sebrae-SP, a estratégia da constante busca por novos clientes não pode parar. “Duas horas sem reparar um carro é dinheiro perdido”, diz. O recomendado é que o empresário trabalhe com alguns brindes, como calendários, fichas e etiquetas, deixando marcado a sua empresa na memória dos clientes. “São artigos baratos que geram fidelização”, afirma Albanez.